E se o transporte público fosse gratuito nas grandes cidades? Uma análise do caso de Paris
Logo de saída, a ideia parece muito boa do ponto de vista dos usuários ou insustentável, para outros, quando analisada a luz da dinâmica econômica. Mas, em algumas cidades do mundo, a gratuidade do transporte público já é oferecida à população, como na capital de Estônia, por exemplo.
No caso da capital francesa, os planos de tornar o transporte público gratuito não avançaram. Mas, para entendermos melhor o caso, é necessário regressamos algum tempo no passado.
Como surgiu a ideia?
Entre abril e março do ano passado (2018), a prefeita de Paris Anne Hidalgo apresentou um proposta ousada: tornar o transporte público na capital gratuito, a partir de 2020.
A prefeita chegou a afirmar que a isenção dos custos de deslocamento oferecida aos usuários, além de uma questão chave, poderia tornar a mobilidade melhor no futuro próximo, por se tratar de uma peça importante deste contexto.
Ainda, segundo a prefeitura da capital francesa, o principal objetivo deste projeto seria melhorar a qualidade do ar da cidade, uma vez que os habitantes deixariam seus carros em casa para utilizarem o transporte público como a principal forma de deslocamento.
Quando a notícia surgiu na mídia internacional, a prefeitura afirmou que realizaria estudos de viabilidade em localidades onde a gratuidade do transporte público já existia, seja no próprio território francês, como é o caso Compiègne, um cidade de 40 mil habitantes, ou em outras partes do mundo.
Mas, o projeto não foi pra frente. A partir de agora, analisaremos os motivos que levaram a prefeitura de Paris desistir da ideia.
Qual a composição dos custos com transporte em Paris?
Na época em que a notícia circulou, um dos fatores que não estava totalmente claro era como a prefeitura de Paris implementaria a mudança na cidade.
Na região parisiense, cerca de 28% do financiamento da rede de transportes advém da venda de bilhetes individuais e do passe “Navigo”, o cartão recarregável de transporte. Esse valor representa, aproximadamente, três bilhões de euros por ano.
Colocando o que acabamos de mostrar de uma outra forma, temos que, logo de saída, a prefeitura perderia cerca de três bilhões em receitas, ou seja, outras medidas de arrecadação deveriam suprir o “rombo” que a medida causaria.
Na época, foi divulgado que a prefeitura criaria fontes alternativas de receita, como a criação de pedágios em diversas áreas da cidade, como forma de desencorajar os deslocamentos via transporte individual, assim, contribuindo para a sustentabilidade deste projeto. Outra medida seria o aumento de painéis publicitários que já existem na capital.
Mas, a grande pergunta a ser feita era: será que as pessoas realmente iriam abraçar a ideia e adotar o transporte público como forma principal para realização de seus deslocamentos?
Porque a prefeitura desistiu da ideia?
Depois de realizar os estudos, a prefeitura de Paris desistiu da ideia ao concluir que a oferta de passagens gratuitas de ônibus, trem e metrô para todos os habitantes da cidade, reduziria muito pouco o tráfego de veículos pelas ruas da capital.
Os estudos realizados apontaram que a maioria dos motoristas não deixariam de usar seus veículos mesmo o transporte público sendo gratuito, sob a justificativa da comodidade, conforto e agilidade. A redução de tráfego seria no máximo 5%.
Mesmo não estendendo a medida a todos, Paris implementou algumas mudanças para grupos específicos de usuários. Crianças com até 11 anos terão tarifa grátis e estudantes com mais de 12 anos, passarão a ter direito a meia tarifa.
Ao não cobrar de crianças e jovens, as chances dos pais passarem a utilizar o transporte público quando saírem com seus filhos é maior. Isso, poderá estimular grande parte da população a utilizar o transporte público.
E aqui no Brasil, será que uma medida como essa seria bem sucedida?
Agora que você aprendeu os motivos que levaram a prefeitura de Paris a desistir da ideia, descubra de uma vez por todas porque quando chove o trânsito fica lento, com vários congestionamentos e extremamente cansativo.