Carros autônomos: será esse o futuro da mobilidade?
No contexto social, a inovação aplicada a diversos recursos e utensílios comuns ao nosso dia a dia, advém das proposições do que chamamos “Internet das Coisas” (do inglês, internet of things), ou, simplesmente, IoT.
A revolução proposta por esse modelo de relacionamento social, não somente entre as pessoas, mas, sobretudo, entre máquina e homem, tem como objetivo conectar itens utilizados em nosso dia a dia à rede mundial de computadores seja eletrodomésticos, dispositivos “vestíveis” ou mesmo os meios de transporte.
A idéia de conectar os objetos é discutida desde a década de 90, a partir da popularização da conexão TCP/IP. Todavia, o surgimento do termo ocorreu somente em 1999, quando o pesquisador britânico Kevin Asthon do MIT criou esta nomenclatura.
No artigo de hoje, mostraremos o que são os carros autônomos, como eles funcionam, quais seus objetivos e as mudanças que, em uma possível adoção massiva, eles podem gerar.
O que são os carros autônomos?
A nomenclatura é profundamente sugestiva, carros autônomos – ou carro autônomo – são carros que não dependem da condução humana, ou seja, não existe motorista que o conduza, eles se auto gerenciam. Por meio de computadores e diversos sensores, uns acoplados aos carros, outros espalhados pela malha rodoviária e pelos objetos necessários à comunicação com os automóveis, os carros autônomos são capazes de captar diversos dados e interpretá-los a fim de agir de acordo com o ambiente.
O fornecimento e captura de dados ocorre pela interação dos sensores instalados nos veículos com radares, semáforos, câmeras, obstáculos encontrados no caminho, informações de trafegabilidade e legislações de trânsito. Mas, a complexidade dos carros autônomos é significativamente grande, uma vez que, precisam “enxergar” e “detectar” o que esta a sua frente, “interpretar” a situação, “escolher” a forma ideal de “agir” de acordo com o ambiente e “atuar” de acordo com essas informações. Então, como isso é possível?
Como funcionam os carros autônomos?
As decisões tomadas pelo carro autônomo dependem de uma central de gerenciamento que coordena toda lógica móvel, sistêmica e operacional dos automóveis. Em sua essência, os carros autônomos são sistemas que dependem de uma administração “superior” para agirem, tomarem decisões e atuarem sob os princípios definidos mediante análise do ambiente.
São vários os componentes envolvidos para que o carro possa executar seu papel. Em um primeiro momento, é necessário que o carro “enxergue”, quer dizer, seja capaz de detectar o que está à sua volta, a sua frente e em demais direções, para, então, interpretar o contexto e decidir.
Para que o carro funcione, é necessária a presença de três sensores principais, a saber, radar, sonar e lidar. O radar (radio detection and ranging) transmite ondas de rádio enquanto o sonar (sound navigation and ranging) emite ondas sonoras que permitem o reconhecimento de objetos. Ambos emitem um sinal, captam a reflexão e mensuram o tempo entre os dois para computar a distância entre o carro e os obstáculos. Já o Lidar (light detection and ranging) permanece regularmente girando, usando raios laser para constituir um conjunto de coordenadas correspondentes aos lugares onde o laser é refletido.
Em suma, esses três sensores operam exatamente da mesma forma: ambos emitem um sinal (rádio, ultrassom ou laser) que pode ser refletido, caso haja algum obstáculo ao alcance do automóvel. Se o sinal é refletido, o sensor detecta onde isso aconteceu, interpreta a informação e toma uma decisão de acordo com os dados captados. No caso do radar e do sonar, a direção é fixa e, portanto, a leitura é única. Já quando falamos sobre o lidar, geralmente são emitidos sinais em várias direções — para cobrir 360 graus —, e cada uma dessas direções fornece uma leitura distinta.
Desse modo, esses sensores são capazes de realizar varreduras nas mais diversas direções, por meio de dezenas de milhares de leituras por segundo. Assim, a partir desses dados (com resoluções bem detalhadas), há a interpretação do sistema e a tomada de decisão.
Objetivos dos carros autônomos
Os carros autônomos almejam evoluir o trânsito das grandes cidades, a oferta de serviços logísticos, a forma como as pessoas são transportadas, o formato de relacionamento entre empresas e sociedade e a economia colaborativa, onde os objetivos passam de posses e formas individuais de consumo a ofertas de serviço e uso compartilhado.
Além disso, os carros autônomos podem contribuir para a redução de acidentes, uma vez que o fator humano não mais será o responsável direto pela tomada de decisão a bordo. Também, poderão reduzir os níveis de congestionamento das grandes cidades, possibilitar a criação de novos serviços, aumentarem a capacidade de tráfego nas vias urbanas e na malha rodoviária em geral, melhorar o fornecimento e a percepção de qualidade do transporte público e aumentar a segurança de passageiros e bens transportados.
Ainda, a emissão de poluentes e o consumo de combustível sofrerão impactos positivos, uma vez que os softwares responsáveis pelo gerenciamento do veículo poderão criar modelos ideais de condução e replicá-los a todos os veículos. Como o controle é realizado por computadores, a comunicação do modelo torna-se possível e plenamente recomendável.
Qual o futuro dos carros autônomos?
Há de se destacar uma coisa: muitas pessoas sentem prazer de dirigir, tem os veículos como hobby e não se adaptariam ao novo modelo totalmente disruptivo que, aos poucos, ganha notoriedade e espaço na sociedade. Esse é um grande problema para a aceitação do modelo. A não ser que alguma lei force a adoção massiva deste novo formato de automóvel, o que, em se tratando de “democracia” não seria a forma ideal para adoção, a nova lógica de mobilidade proposta pelos carros autônomos enfrentaria uma grande barreira, ou seja, os próprios usuários.
Outro fator aponta para o custo. O desenvolvimento destas tecnologias custa caro, envolve mão de obra especializada, acordos governamentais, parcerias entre empresas e diversos outros fatores. O que isso, no final, acarretaria ao consumidor final?
Ainda, como as pessoas reagirão ao fato de que os carros se deslocarão sem um motorista? O senso de segurança, certamente, será afetado por isso e muitas pessoas não irão utilizar os carros autônomos, ainda mais com históricos de acidentes, inclusive, mortes que já ocorreram por falhas no sistema de decisão do automóvel.
E a frota mundial de veículos? O que irá acontecer com os carros do mundo inteiro? E o mercado de carros seminovos, venda informal de veículos e oficinas mecânicas? E os atuais serviços de mobilidade, logística e gestão?
Grandes são as barreiras a serem vencidas pelos carros autônomos. E o futuro? O futuro dos carros autônomos é desconhecido. Como mostramos, milhões de pessoas ao redor do mundo serão afetadas negativamente com a instituição deste modelo, ainda que ele traga benefícios. Todavia, mesmo havendo defensores deste modelo, no fim das contas, quem regulará a demanda são os próprios usuários, quer dizer, eu e você. E para você, o modelo tem futuro?